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O sonho da cirurgia plástica deve ser realizado com consciência e cuidado
Alinhar as expectativas é um dos principais desafios da relação médico e paciente e é sobre isso que refletimos neste artigo.
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Veja aqui Danilo
Veja aqui Danilo
Um dos primeiros desafios enfrentados pelo médico da cirurgia plástica é alinhar bem as expectativas que o paciente possui em torno do sonho do resultado ideal.

É essencial que o paciente entenda quais são os resultados possíveis dentro de cada caso e procedimento em particular. Afinal, nem sempre é possível alcançar o resultado idealizado. 

Um dado divulgado pela Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica (ISAPS) informa que 30% dos pacientes são rejeitados pelos cirurgiões plásticos por não terem expectativas reais.

Portanto, nesse texto, convido você para uma reflexão. Acredito que a leitura dará uma boa visão sobre a necessidade do equilíbrio expectativa e realidade no que diz respeito ao que é possível dentro da cirurgia plástica.

Vamos começar falando sobre como é construída a percepção da autoimagem. Acompanhe!

A percepção da autoimagem

A Cirurgia Plástica é minha especialidade, uma escolha honrosa que sempre me rendeu muitas alegrias, contudo, se trata de uma área da medicina que envolve sentimentos nem sempre positivos para o paciente.

A jornada do paciente desde a percepção da insatisfação com a autoimagem, escolha do profissional, realização da cirurgia e finalmente a melhoria da autoestima, por vezes confronta com empecilhos ocultos e amarras psicológicas que interferem na percepção de sucesso do procedimento. 

Em artigo científico publicado na Revista Brasileira de Cirurgia Plástica (RBCP), Cristina Copetti e Jones M. Copetti escreveram que a autoimagem tem seu desenvolvimento iniciado desde a gestação, assim como nos primeiros cuidados que o bebê recebe.

Assim, o bebê vai incorporando à sua imagem sentimentos positivos, como entusiasmo, e sentimentos negativos como indiferença, raiva, depressão, etc. 

Na consulta de Cirurgia Plástica em conversa com pacientes, regiões cerebrais específicas são acessadas.  Alguns deles revivem dores da infância outros sofrem por desagrados recentes. São emoções tão escondidas que o paciente imagina que modificando apenas a forma do corpo vai encontrar a solução para os traumas que possui, quando na verdade, o resultado é mais físico do que psicológico.

Dito isso, é importante ressaltar que, para obter maior satisfação quanto aos resultados da cirurgia plástica, o paciente assuma uma relação de confiança com o médico cirurgião. 

Relação de confiança com o médico, familiares e amigos

Esta é uma percepção que desenvolvi institivamente ao longo dos anos e que foi constatada pelos Drs. Copetti: Quando a comunicação entre o paciente e seu cirurgião é construída em conjunto, ao invés de imposta por uma das partes, se desenvolve uma maior capacidade para suportar os desconfortos inerentes ao processo de recuperação (edemas, hematomas e dores, por vezes).

É bem verdade que a ansiedade e frustração são características frequentes no pós-operatório imediato, pois sabemos que muitas vezes o paciente tem dor, acorda com curativos, pontos; e se vê em uma  situação de dependência de alguém.

Sem contar que, ao se olhar no espelho ainda não obteve o resultado final almejado. Percebemos que junto com a frustração, podem vir raiva e arrependimento. 

É aí que entra o papel da família e amigos. O núcleo que poderia amenizar estes sentimentos negativos, mas que também pode reforçá-los.

Portanto, é essencial que família e amigos sejam colocados na mesma equação, uma vez que eles podem compartilhar, juntamente com o paciente, sentimentos  de dívida, ansiedade,  inveja,  ciúmes inconscientes, entre outros. “Como o processo cirúrgico é muito interativo, esta ansiedade pode ser contagiosa”, constatam os autores.

Uma relação de confiança entre o paciente, cirurgião e equipe pode minimizar estas sabotagens inconscientes. O acolhimento pode fazê-los entender que a paciência nesta  fase é  fundamental para que o processo de recuperação transcorra sem mais traumas que vão impactar na satisfação com o resultado. 

O impacto das redes sociais na criação de expectativas irreais

Ainda refletindo sobre minha vivência na Cirurgia Plástica, afirmo que o advento das redes sociais dificultou em muito as relações médico-paciente. 

No caso da cirurgia plástica criou-se uma cultura de resultados perfeitos, rápidos, indolores como os realizados em aplicativos de tratamento de imagens.

Além de aspectos emocionais oriundos de dores do passado, temos a missão de trazer para o mundo real pessoas que preferem sonhar com o inalcançável, pois ele viria sem esforços, restrições alimentares e ainda sem cicatrizes. 

As expectativas por um resultado de foto ou baseado em outro formato de corpo outros hábitos alimentares, rotina de exercícios, idade são anseios difíceis ou impossíveis de corresponder. 

Algumas vezes me vejo obrigado a contraindicar procedimentos, quando percebo que a pessoa não se vê há muito tempo, tendo se aficionado a uma imagem ou a um resultado distante, que não se conecta mais com ela.

Cirurgia plástica e psicologia

Apesar das considerações feitas, devo pontuar que, analisando todas as situações que já vivi no meu consultório, concordo quando o Dr. Ivo Pitanguy afirma que o “Cirurgião Plástico é um psicólogo com bisturi na mão”. 

Esta frase célebre foi inspiração para o livro da antropóloga Andréia Tochio e da resenha escrita pela também antropóloga Daniela Feriani. 

A antropóloga Andrea Tochio filosofa a respeito do assunto: “A falta de autoestima pode se transformar em uma doença que a plástica pode curar”.

A visão da antropóloga vai mais além e afirma ainda que “a noção de conquistar um padrão adequado aos olhos se conecta com a de bem-estar, saúde, e felicidade e livra a Cirurgia Plástica de um significado meramente ligado a vaidade e futilidade” 

Estou alinhado com a comunidade científica, que, após anos de estudos e pesquisas, chegaram à conclusão de que na visão dos Cirurgiões Plásticos, os “bons pacientes” seriam os que desejam a cirurgia para uma busca autônoma e disciplinada da satisfação pessoal.

Já os “maus pacientes” seriam os que desejam a cirurgia para agradar outrem (reconquistar o marido (esposa), conseguir um namorado, um emprego...). Estes tendem a nunca ficarem satisfeitos com os resultados obtidos. 

Contudo, a especialidade Cirurgia Plástica é para mim um mundo de alegrias em sua maior parte. Sigo consciente da minha missão de transformar vidas e famílias.

Para isso conto com uma equipe sensível e preparada para minimizar estas questões internas de cada paciente. 

Todos aqui são preparados para olhar, acolher e orientar cada um que quiser fazer parte e viver conosco este sonho da Cirurgia Plástica